domingo, 28 de abril de 2013

Une Vie (1971-72)


A mesma linha de trabalho escolhida por Dalida avança para 1971 e culmina em um novo trabalho bastante denso e maduro. Também produzido pela Orlando International Shows, o disco Une Vie atinge grande sucesso, uma vez que é formado por composições memoráveis de grandes artistas franceses. Para produzir o álbum, a cantora reuniu peças de grandes compositores, como Michel Sardou - Chanter les Voix -, Michel Legrand - a faixa-título do disco -, Serge Lama - Toutes les Femmes du Monde -, Boris Bergman - Le Fermier - e Leo Ferré - Avec Le Temps, um dos maiores sucessos de Dalida de toda a sua carreira. A canção de tom pessimista, junto a outra composições mais românticas e tristonhas, aprofundou ainda mais a maturidade da estética musical, que culminou em um trabalho bem sério.

Avec le Temps: canção foi um dos hinos imortalizados por Dalida em 1971

Outros títulos favoreceram esse lado musical melancólico, como Comment Faire Pour Oublier, que foi o primeiro single lançado naquele ano. Trata-se de uma adaptação ao francês de outra composição de Melanie Sakfa, que havia composto a original de Ils Ont Changé Ma Chanson. No verso do compacto, uma canção que ficou e fora do LP mas que deu nome ao disco número 1 da coletânea Les Années Barclay, La Rose Qui J'Aimais. Já Jésus Bambino, segundo single, era uma adaptação francesa do título italiano de Lucio Dalla, 4 Marzo 1943. Originalmente, a canção apresentada no Festival de San Remo de 1971 foi nomeada tal como no francês, Gesù Bambino. No entanto, ela foi considerada desrespeitosa pelo júri, obrigando o compositor da peça mudar o título. No Brasil, a polêmica música foi versionada por Chico Buarque e lançada como Minha História. No b-side da versão de Dalida, constava outra versão do italiano para o francês: Tut'all Più, de Patty Pravo, foi versionada para Tout au Plus. Diferente do b-side do primeiro single, este sim saiu no LP Une Vie

Já o terceiro single foi Mamy Blue - originalmente composta em francês, foi lançado em italiano por Nicoletta e, posteriormente, por Dalida, que popularizou a canção na Itália. O single, que foi o único título em italiano que figurou no LP Une Vie, aproveitou para trazer à França, como b-side, um novo single lançado na Itália por Dalida, La Colpa è Tua. Em seu país materno, as duas músicas foram lançadas como singles em compactos independentes, que continham em seus versos, respectivamente, duas canções de Dalida adaptadas para italiano: L'amore Mio Per Te (Le Rose Qui J'Aimais) e Prigioniera (Comment Faire Pour Oublier). Em 1971, Mamy Blue foi a canção que mais se destacou em vendas, obtendo certificado de disco de ouro na Itália. Já na França, nenhum título do gênero foi obtido.

Para fechar os trabalhos daquele ano, Dalida lançou mais dois singles: Avec le Temps, um das canções mais emblemática de sua carreira, contendo no b-side Monsieur L'amour. O último foi a balada romântica Les Choses de L'amour, junto a Chanter les Voix. Fora as já citadas, foi agregado ao LP mais uma faixa: Non, versão francesa do título Why, de Roger Whittaker. Apesar do pouco sucesso de vendas, o trabalho demonstrava que Dalida já era uma artista consagrada e que já podia caminhar com atitude pelo estilo que quisesse. O resultado foi que a cantora continuava fazendo sucesso com seu novo repertório, chegando a executar uma série de concertos no Piccadily da cidade de Beirut, no Líbano, e em diversos países do leste europeu e ásia central. 

Capa do disco Une Vie traz escritos com a letra
da própria Dalida

Na Europa o sucesso ainda frutificava, sendo consagrado por um show no Olympia, em Paris. O dono do teatro, Bruno Coquatrix, ficou temeroso se o espetáculo vingaria, visto que Dalida não se apresentava na casa de espetáculos desde 1967 e seu repertório mudara bastante. No entanto, o engano foi certo e Dalida conseguiu lotar todos os dias de show. O setlist foi composto essencialmente por canções de seus dois últimos LPs, Ils Ont Changé Ma Chanson e Une Vie. Dalida acresceu aos shows apenas quatro canções da década de 1960: Deux Colombes, Les Anges Noirs, Heene Ma Tov e Ciao Amore Ciao, que fechava o espetáculo. Com exceção de Heene Ma Tov, Darla Dirladada e Ils Ont Changé Ma Chanson, canções folclóricas mais dançantes, todo o setlist do show era mais melancólico, demonstrando uma fase bastante intimista e reflexiva de Dalida. Uma noite do espetáculo foi gravada e o áudio foi compilado em um LP em 1972, intitulado Olympia 71. Esse foi o primeiro disco ao vivo lançado por Dalida em vida, que, a princípio, continha apenas 12 faixas. Contudo, ao ser relançado em CD nos anos 1990, o show teve todo o seu repertório reeditado, o que resultou em um total de 17 canções. Em 2012, o espetáculo foi lançado em DVD com áudio e imagens restaurados.

 
Dalida apresenta, ao vivo no show Olympia 71, a canção Mamy Blue,
com a qual conquistou disco de ouro na Itália

Após iniciar o ano de 1972 com o pé direito com o lançamento de seu primeiro disco ao vivo, Dalida lança um novo single - Mamina. A canção melancólica, mais uma para o hall dos títulos intimistas da cantora,  fala sobre a relação dela com a mãe. Esse tema é um dos preferidos de Dalida, sendo volta e meia tratado em várias canções. Ao mesmo tempo, a canção demonstrava que a cantora seguia em bom ritmo no seu novo estilo. Na sequência, um outro compacto foi lançado, trazendo mais duas novas músicas: eram Jésus Kitsch e Ma Mélo Mélodie. Esta última quebrava um pouco da linha de produção mais intimista de Dalida, uma vez que se mostrava uma música mais superficial, feita para divertir. Todas essas novas canções tornaram-se parte de um novo disco editado naquele ano. O trabalho foi intitulado de Il Faut du Temps, por causa da faixa de mesmo nome, que era a primeira do LP. 

O disco trouxe a mesma linha do disco Une Vie, embora trouxesse mais hits. O álbum trouxe novamente a faixa Avec le Temps; a balada Pour ne Pas Vivre Seul, que fez sucesso; Parle Plus Bas, uma vesão letrada do tema musical de Ennio Moricone, composto para o filme O Poderoso Chefão; uma releitura do sucesso de Charles Trenet Que Reste-t-il de Nos Amours?; e a romântica Paroles Paroles, cantado junto com o ator Alain Delon. Esta última faixa - que é uma reprise de Parole Parole, sucesso italiano cantado por Mina e Alberto Lupo - alcançou enorme êxito e colocou Dalida de volta às paradas de sucesso. A canção representou também o retorno da cantora à interpretação de músicas mais do gosto popular. Paroles Paroles é, até hoje, uma das canções gravadas por Dali mais lembradas pelo público. O hit foi número 1 no Japão, onde ganhou disco de ouro. Na França, o single ganhou disco de ouro duplo.


Paroles Paroles: Dalida voltou aos hit parades com sucesso do single

Capa do Single Paroles Paroles, lançado no início de 1973. 
B-side Pour ne Pas Vivre Seul também fez sucesso. 

Dalida interpreta Pour ne Pas Vivre Seul ao vivo na televisão francesa.
Título foi relembrado em 2002 no filme Oito Mulheres (Huit Femmes)

A relação de Dalida com Alain Delon, provocada pelo dueto, levou a uma série de encontro entre os dois artistas. O fato suscitou um possível relacionamento entre ambos. Nunca se comprovou se os dois chegaram a se relacionar afetivamente, pois sempre afirmaram em público que eram bons amigos. Na verdade, o biênio 1972/73 trouxe sorte para o amor na vida de Dalida de outra forma. Nessa época, ela conheceu Richard Chanfray, figura pública conhecida como o Conde de Saint Germain. O homem era conhecido por seus números de ilusionismo, com os quais dizia transformar chumbo em ouro. Em 1973, ele se destacou em programas de TV com números de magia que encantaram a sociedade francesa. Certo dia, os dois se conheceram e se apaixonaram rapidamente, engatando um relacionamento que foi o mais duradouro da vida de Dalida - durou nove anos. O relacionamento tornou-se decisivo na condução da carreira artística de cantora, que começou a "desentristecer" ao longo dos anos 1970.


Alain Delon e Dalida: amizade colorida?

Dalida recebe fãs em viagem de turnê ao Japão, em 1974

O volume dois da coletânea Les Années Barclay, também intitulado Une Vie, traz todas as canções do LP homônimo, mais as citadas acimas do Il Faut du Temps, incluindo a faixa-título e a canção L'amour qui Venait du Froid, versão francesa de uma canção popular russa, registrada na mesma época pelo cantor Patrick Juvet, sob o título de Sonia. As demais canções do álbum foram incluídas no outro volume da coletânea, que será apresentado na postagem seguinte: Des Gens qu'on Aimerait Connaître. A única exceção da coletânea é a faixa Le Temps de Mon Père, que é pertencente ao disco Julien, de 1973. A versãod e Dalida para Que Reste-t-il de nos Amours? foi relançada em 1976, no disco Coup du Chapeau au Passé; logo, a faixa foi editada no volume da coletânea que contempla o referido álbum.


1. Une Vie
2. Parle Plus Bas (Le Parrain)
3. Non (Why)
4. Les Choses de L'amour
5. Paroles Paroles (Parole Parole)
6. Il Faut du Temps
7. Mamina
8. Le Temps de Mon Père
9. Chanter les Voix
10. Monsieur L'amour
11. Jésus Kitsch
12. Pour ne Pas Vivre Seul
13. L'amour qui Venait du Froid
14. Toutes les Femmes du Monde
15. Le Fermier
16. Ma Mélo Mélodie


1. Introdution Orchestra - Non
2. Non (Why)
3. Chanter les Voix
4. Heene Ma Tov
5. Les Anges Noirs
6. Tout au Plus (Tut'all Più)
7. Les Choses de L'amour
8. Toutes les Femmes du Monde
9. Le Fermier
10. Darla Dirladada
11. Deux Colombes
12. Ils ont Changè ma Chanson, Ma
13. Une Vie
14. Avec le Temps
15. Mamy Blue
16. Ciao Amore Ciao