terça-feira, 2 de julho de 2013

Fini la Comédie (1980-1982)

Gigi in Paradisco ainda fazia sucesso quando Dalida lançou mais um single. Em Rio do Brasil, cantora explorava o samba, palavras em português e o tropicalismo do país dançando com roupas elaboradas, rodeada de dançarinos. De fato, Dalida parece ter incorporado muito bem o seu novo estilo musical, que a consagrava como diva na França. O sucesso, claro, não deixou de fazer sucesso no Brasil. Em 1983, foi lançado por aqui o LP Monday Tuesday, que trazia os grandes sucessos de Dalida dos anos 1980, como a faixa-título, Rio do Brasil, Fini la Comédie, entre outras. Contudo, até lá muita coisa aconteceu, especialmente no ano de 1981, que foi icônico para Dalida.

Dalida canta e dança Rio do Brasil na Alemanha. 

O ano representou muito para Dalida, que completava 25 anos de carreira. O resultado foi que as músicas lançadas nessa época refletem bastante sua trajetória de vida, com alto teor autobiográfico. A essa altura, artista contava com uma seleção de compositores que, mais do que amigos, são verdadeiros fãs e admiradores. Desde 1978, esses músicos passam a compôr muitos temas para ela como se estivessem na pele da própria Dalida. Isso fez com que boa parte dos sucessos que a cantora gravou até o fim de sua vida parecessem ter sido compostos por ela própria, remetendo um alto grau de personalização dos hits.

Na virada para 81, mais um single surge: em Chanteur des Années 80, Dalida canta as emoções de cantar dentro da estética oitentista, mas sem perder a ternura dos temas que lhe guiaram ao longo da carreira. No verso do single, uma balada profunda, a altura de Dalida - À Ma Manière. No tema, Dalida canta a dor de ter as escolhas da vida impostas por outras pessoas ou por situações adversas e a importância de escolher os caminhos de sua vida à maneira dela. A canção havia sido registrada em 1979 pela cantora Ginette Reno, mas com letra diferente. A versão de Dalida, além de popularizar o tema, fez relativo sucesso; título foi um dos que passou a fazer sentido após a morte de Dali, como uma espécie de previsão de seu suicídio.

Dalida canta À Ma Manière ao vivo no programa de TV Stars, em 1980

Outro single de sucesso lançado em seguida foi Fini la Comédie. Balada romântica narra um amor que se desfez, sendo ilustrado, como o nome da música sugere, por elementos próprios do teatro e da vida no palco. Apesar de não remeter a um episódio específico da vida de Dalida, querendo ou não a canção o fizeram, uma vez que marcara o fim do relacionamento da cantora com o Conde de Saint Germain. Ela e Richard Chanfray vinham passando por estremecimentos desde fins de 1979, principalmente por conta do comportamento agressivo e ciumento do companheiro. O resultado é que ambos decidem terminar a relação de quase 10 anos, em 1981. Tentando se recuperar do fim do relacionamento amoroso, Dalida, como de costume, se joga de cabeça no trabalho. Na época, surgem boatos de que Dalida tem um caso amoroso com o político esquerdista François Mitterand, que concorria às eleições presidenciais na época. Contudo, Orlando sempre negou envolvimento amoroso entre os dois, alegando que eram apenas dois amigos. Uma foto tirada em 1972, mostra os dois reunidos em uma reunião comemorativa. Contudo, um livro lançado em 2007 por Jacqueline Pichtal revela que o affair teria começado em torno de 1979 e durado até mais ou menos à época da eleição de 1981. Naquele ano, a relação próxima entre os dois rendeu algumas brincadeirinhas da mídia, atribuindo ao político o apelido de Mimi L'amoroso. Tudo foi negado por Orlando.


Mitterand e Dalida em 1972, comemorando a primeira vitória
eleitoral do partido do político

Nas eleições de 1981, a figura de Dalida se destaca em passeata
de apoio à vitória de François Mitterand


No verso do single Fini la Comédie, a canção Marjolaine de Francis Lemarque é entoada por Dalida em uma versão bem no estilo da cantora. Esta última canção foi apresentada bastante em programas de TV, principalmente fora da França. As apresentações no exterior lhe renderam prêmios importantes como o prêmio Golden Europa, emitido pela Alemanha, que elegeu Dalida a cantora mais popular no país. Na França, a fama lhe rendeu uma medalha de honra dada pelo ministro da defesa da época, Charles Hernu.

Dalida interpreta Fini la Comédie, a balada de maior destaque
lançada por ela em 1981

Dalida apresenta os sucessos Marjolaine e Et la Vie Continuera
no famoso programa televisivo Palmarès des Chansons


Este último compacto foi lançado promocionalmente junto ao LP que Dalida lançava naquele ano. Disco foi intitulado como Olympia 81, em referência ao espetáculo que a cantora realizou no Teatro Olympia em comemoração de seus 25 anos de carreira. O álbum reuniu todas as canções lançadas pela artista em fins de 1980 e durante 1981. Alguns singles inclusive foram lançados durante a temporada de shows, como Et la Vie Continuera e Il Pleut Sur Bruxelles. Esta última foi gravada por Dali em homenagem ao cantor e compositor belga Jacques Brel, falecido em 1978. Tema, cantado pela artistas em muitos programas de TV,  passeava por canções e personagens criados pelo cantor.

Em 1981, apenas mais um single foi apresentado ao público - a canção Americana, que foi um single de verão lançado já na virada para 82, cujo b-side era Une Femme à 40 Ans, que fez parte do especátulo no Olympia e traz, no texto, as reflexões de uma mulher madura sobre a chegada da velhice. As demais canções foram todas conhecidas pelo grande público durante o próprio show. No repertório, grandes temas românticos e autobiográficos - Partir ou Mourir, L'amour et Moi (versão francesa de uma balada de Barbra Streisand, The Love Inside) e Le Slow de Ma Vie -, bem como canções dançantes - destaque para La Feria, que remete o público aos famosos temas ciganos que Dalida gosta.


Em síntese, o álbum Olympia 81 incluiu 12 novas canções, entre singles e inéditas apresentadas no espetáculo homônimo. O show foi um dos mais memoráveis da carreira de Dalida, não apenas pela data de aniversário, mas pelos resultados que isso trouxe. Apesar de trazer o nome da turnê, o disco foi todo produzido com versões de estúdio, tal como o Olympia 67. O álbum alcançou certificação de disco de ouro e rendeu a Dalida um prêmio inédito. Em uma noite de gala da turnê, a cantora recebeu um disco de diamantes em homenagem a seus 25 anos de carreira, além de seus exitosos números de vendas de discos, que ultrapassavam 80 milhões no mundo inteiro. Para recebê-lo, Dali usou o mesmo vestido vermelho o qual ela havia debutado na cena musical francesa, nos anos 1950. Foi a primeira vez que um artista, em todo mundo, havia recebido um prêmio dessa magnitude.



Dalida recebe seu disco de diamantes, no Teatro Olympia, em 1981

Detalhes dos cristais e dos dizeres do primeiro disco de diamantes
concedido na história da música mundial

Conhecido clique de Dalida na turnê do Olympia 81,
 após cantar Je Suis Malade


Na virada para 1981 para 1982, Dalida registra cinco canções inéditas para um programa televisionado durante o ano novo. As canções deram a ideia de serem compiladas em um novo LP, que seria lançado naquele ano. Outras músicas foram registradas para comporem o álbum de 1982, que seria chamado de Spécial Dalida, a exemplo do primeiro single do LP. Tratava-se da música Quand Je N'aime Plus Je M'en Vais. Ainda seguindo a onda disco, canção, no entanto, não obteve tanto sucesso. Curiosamente, a balada b-side do compacto, Nostalgie - versão francesa da canção Hearts, de Marty Balin - alcançou maior destaque, sendo apresentava na televisão da França e da Alemanha.

A chegada a 1982 também reservou uma surpresa ao público. Entre hits, adereços e trajes bem produzidos, um fato em especial chamava a atenção: repentinamente, Dalida aparecera com traços faciais diferentes. O nariz parecia mais afilado do que o normal, assim como a área dos olhos aparentava estar mais esticada - os indícios levavam a crer que a cantora havia se submetido a uma cirurgia plásticas. No entanto, o fato sempre foi negado tanto por Dalida, quanto por seu irmão Orlando, que sustenta, até hoje, que a irmã, durante toda sua vida, nunca realizou nenhum tipo de procedimento cirúrgico. O fato gerou alguma repercussão, mas depois da negativa, a cantora seguiu com seus trabalhos normalmente.

Dalida canta Nostalgie ao vivo na TV francesa

O volume 8 da coletânea Les Années Orlando, Fini la Comédie, inclui todas as músicas lançadas por Dalida em 1981, que fazem parte substancialmente do disco Olympia 81. As exceções são a versão de Quand On a Que L'amour do disco Dédié à Toi, de 1979/80, Rio do Brasil, que foi lançada como single em 1980, e três canções do disco Spécial Dalida: as duas lançadas como single ainda em 1981 - Quand Je N'aime Plus Je M'en Vais e Nostalgie - e Comment L'oublier - versão em francês de Helwa Ya Baladi. A canção ganhou novas letras na língua francesa em homenagem ao presidente egípcio Anwar Sadat, que foi assassinado em 1981. O hit árabe ainda ganhou versão em espanhol no título Io T'amero (Tres Palabras). Já a faixa Chanteur Des Années 80 foi a única a ficar de fora, sendo compilada no volume 7 da coletânea.


1. Fini la Comédie
2. Rio do Brasil
3. Nostalgie (Hearts)
4. Il Pleut Sur Bruxelles
5. Quand Je N'aime Plus Je M'en Vais
6. L'amour et Moi (The Love Inside)
7. Marjolaine
8. Quand On a Que L'amour
9. Et la Vie Continuera
10. La Feria
11. Une Femme à 40 Ans
12. Le Slow de Ma Vie
13. Americana
14. À Ma Manière
15. Partir ou Mourir
16. Comment L'oublier (Helwa Ya Baladi)
17. J'm'appelle Amnésie

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