domingo, 20 de janeiro de 2013

Le Petit Gonzales (1961-62)

Na transição artística para o estilo iê-iê-iê, Dalida se deu muito bem. O ano de 1961 começou positivamente para a artista, com a popularização do EP Garde-Moi la Dernière Danse em 1960 (Para mais informações sobre o ano, consulte a postagem Les Enfants du Pirée). Em alguns meses, um LP novo da cantora foi lançado no mercado, sob o título da canção. Nele contêm diversas músicas no novo estilo, tais como Pepe, repaginada de uma canção da trilha sonora de um filme homônimo, 24 Milles Baisers, versionada de uma canção italiana, e Dix Milles Bulles Bleues. Ambas as faixas pertenciam a dois compactos lançados na época, que eram identificados pelas duas primeiras músicas citadas acima. No álbum ainda figuravam os sucessos do ano anterior Itsi Bitsi Petit Bikini e O Sole Mio.

Outra música bastante importante no álbum é Parle-Moi d'Amour (Fala-me de Amor), canção retirada também de um filme homônimo. No entanto, ao contrário dos demais, o mesmo foi estrelado pela própria Dalida, que interpretou uma cigana chamada Laura Pisani, a personagem central. Na lista dos filmes com participação de Dalida, este é um dos mais populares e de maior destaque. Ainda que o longa não tenha se destacado na época, ele serviu bastante para divulgá-la, uma vez que era do gênero musical e era composto essencialmente pelos sucessos da intérprete protagonista. O filme é pontuado por canções como O Sole Mio, Les Gitans, Milord, Le Bonheur Vient de Me Dire Bonjour, além da faixa-título.

Dalida canta Parle-Moi d'Amour em cena do filme homônimo.

Milord: clássico de Edith Piaf é repaginado em versão italiana na voz de Dalida.
Cena extraída também do filme Parle-Moi d'Amour

O sucesso de Dalida permanecia dando bons frutos não apenas na França, mas também em outros países. Em 1961, ela lançara pela primeira vez um disco em italiano, nomeado por Milord, que encabeçava outras canções os grandes sucessos de Dalida versionados àquele idioma . Enquanto isso, na Alemanha, o disco Rendez-Vous Mit Dalida causava o mesmo impacto, apresentando a cantora cantando integralmente na língua daquele país. O resultado eram as versões para Romantica, Ciao Ciao Bambina (Tschau Tschau Bambina), La Chanson d'Orphée (Orfeo), Milord e o grande hit de Dalida em alemão: Am Tag als der Regen Kam (Le Jour où la Pluie Viendra). Os EPs Garde-Moi la Dernière Danse e Parle-Moi d'Amour ganharam certificado disco de ouro na França, e compacto de Milord alcançou o mesmo êxito na Itália.

Ao mesmo tempo de gozar de grande sucesso profissional, Dalida também experimenta a felicidade afetiva ao casar, em 8 de abril de 1961, com seu produtor Lucien Morisse. A verdade é que, desde que haviam se conhecido, Lucien havia se apaixonado por ela e decidira ele próprio a comandar a carreira da moça. Assim, pouco a pouco, o diretor musical da rádio Europe 1 se aproximou ainda mais de Dalida e os dois, com o passar do tempo, passaram a namorar. Em 1961, decidem oficializar a relação, que, infelizmente, dura apenas dois anos. No início de 1963, um boato de que Dalida o teria traído apenas decreta definitivamente a separação, que já era motivada pela fraqueza da união, alimentada estreitamente pelo compromisso profissional entre o casal.

Dalida e Lucien Morisse casam-se em abril de 1961 após longo
namoro engatado surgido do compromisso profissional entre o casal

O casal Dalida e Morisse nos Alpes Huez, em 1960.

Embora o insucesso afetivo só fosse surgir dois anos depois, nem tudo na vida de Dalida estava bem naquele ano. A cantora enfrentou grandes problemas em 1961 por conta da revolução musical no mundo e sua quebra de estilo. Habituada ao sucesso de vedete da década de 50, Dalida foi recriminada pela crítica na chegada dos anos 1960. De forma geral, artistas já consagrados no mundo todo enfrentavam dificuldades. A nova geração musical, inspirada no rock iê-iê-iê, fez com que os antigos fossem denominados como cafonas e ultrapassados. Na França, não foi diferente. Cantores do estilo chanson e vedetes foram esquecidos ou ficavam em segundo plano em relação a nomes jovens como Johnny Halliday, Sylvie Vartan, Sheila, Françoise Hardy e Claude François, que representavam uma estética musical mais moderna e ditavam a moda. Por isso, mais do que cantar em um novo estilo, Dalida precisava provar ao público e à crítica que era capaz de incorporar a nova realidade musical, render frutos positivos e mostrar que não havia ficado para trás. Para tanto, um espetáculo no Olympia foi organizado. O show seria considerado um divisor de águas na carreira dela e apontaria se a cantora conseguiria acompanhar a nova era ou cairía no ostracismo. Na época, a polêmica foi grande. Um grupo chegou a organizar um ato de hostilização a Dalida durante o espetáculo, mandando uma coroa mortuária de flores para seu camarim. Por fim, o concerto no Olympia 61 de Dalida se tornou um dos mais emblemáticos realizados por ela naquela década, uma vez que conseguiu consagrá-la como uma grande artista. Consequentemente, a ocasião também fez com que Dalida abandonasse seu estilo antigo para nutrir apenas aquele recomeço, regido unicamente pelo estilo pop-rock iê-iê-iê. Em decorrência da mudança, seu visual mudou bastante, deixando de lado o visual exótico em prol de penteados armados da moda, maquiagem menos excessiva e vestimentas mais modernas. No entanto, alguns resquícios do passado ainda podiam ser sentidos, como a empostação de voz no canto e os temas ciganos.

Dalida no palco do Olympia, em 1961: momento de conflito e consagração

Dalida em estúdio: biênio 1961 e 1962 marcou mudança de canções exóticas
da cantora para hits pop-rock da moda iê-iê-iê

Assim, outros EPs chegaram ao mercado seguindo os padrões da nova onda. Canções dançantes como Tu Peux le Pendre e Avec une Poignée de Terre, e baladas tais como Tu Ne Sais Pas, Protégez-moi Seigneur Loin de Moi, passavam direto nas rádios, sendo esta última usada como faixa-título para o LP que saiu no final do ano, juntamente com a vitória de Dalida por mais um Oscar da Canção Francesa, prêmio que dividiu ao lado de Charles Aznavour.

LP Loin de Moi: na capa, Dalida exibe novo estilo de se vestir, 
que reflete a mudança no estilo musical


Em 1962, o movimento rock se intensificou. Músicas bem agitadas mas com pouco conteúdo, como Achète-Moi un Juke-Box - cujo EP também obteve disco de ouro - e La Leçon de Twist fizeram sucesso, mas a que mais obteve destaque foi Le Petit Gonzales, uma música na qual Dalida interpreta um diálogo hipotético com seu filho pequeno. O hit explodiu e representou o maior sucesso da cantora desde o êxito obtido por Gondolier, em 1958. A canção, no entanto, por pertencer a uma época muito específica e ter um conteúdo fraco, não acabou se tornando um sucesso memorável na posteridade. Após o lançamento, Le Petit Gonzales ganhou certificado também de disco de ouro, juntamente com a faixa-título de um EP da época Le Jour le Plus Long, que, apesar do sucesso, não integrou nenhum LP. Outras canções de destaque da época foram Nuits d'Espagne, que lembravam o lado exótico com o qual Dalida iniciou sua carreira, e a balada Que Sont Devenues les Fleurs?, que foi versionada de uma canção folclórica americana, a qual narra uma reflexão sobre a efemeridade da vida. Por sua obra musical, Dalida acaba recebendo mais prêmios: o Oscar da Rádio Montecarlo, mais uma vez, e o título de cidadã honorária da Calábria, região da Itália onde haviam nascido seus pais.

Le Petit Gonzales: hit dos anos 1960, aos olhos da atualidade,
torna-se cômico devido ao teor demasiadamente apelativo

EP Le Petit Gonzales

No Volume 5 da coletânea Les Années Barclay são apresentadas as canções gravadas por Dalida entre 1961 e 1962. Embora algumas delas já haviam sido lançadas em 1960, elas estouraram e figuraram LPs apenas no ano seguinte. A canção que deu título ao disco foi Le Petit Gonzales. Já o Volume 1 da coletânea Italia Mia, reúne as músicas que Dalida gravou em italiano entre 1956 e 1962, com exceção da versão italiana de Amore Scusami, que é de 1964. Outras canções gravadas ao longo desses seis anos, como ScoubidouIl Venditore di Felicità e Un Uomo Vivo, foram reunidas em outros CDs da coletânea. Já a faixa L'acqua Viva não entrou em nenhum título da compilação.


1. Dix Milles Bulles Bleues (Le Mille Bolle Blu)
2. Pepe
3. 24 Milles Baisers (24 Mila Baci)
4. Je me Sens Vivre (Un Uomo Vivo)
5. Quand tu Dors Près de Moi
6. Parle-Moi d'Amour
7. Nuits d'Espagne (Spanish Harlem)
8. Reste Encore Avec Moi (Non Mi Dire Chi Sei)
9. Protégez-moi Seigneur (Poderoso Señor)
10. Tu Peux le Pendre (You Can Have Hear)
11. Avec une Poignée de Terre (A Hundred Pounds of Clay)
12. Comme Une Symphonie (Come Sinfonia)
13. Loin de Moi
14. Plus Loin que la Terre (Stranger from Durango)
15. Tu ne Sais Pas (You Don't Know)
16. Cordoba
17. Si tu me Téléphones
18. Achète-Moi un Juke-Box (Jukebox Twist)
19. T'aimerai Toujours
20. La Leçon de Twist
21. Le Ciel Bleu (What a Sky)
22. Le Petit Gonzales (Speedy Gonzales)
23. À Ma Chance
24. Je ne Peux Pas me Passer de Toi (Girl Like You)
25. Toi, Tu me Plais
26. Je l'Attends (King of Clowns)
27. Petit Éléphant Twist (Baby Elephant Walk)
28. Que Sont Devenues Les Fleurs? (Where Have All The Flowers Gone?)


Zingaro Chi Sei
1. Uno a Te, Uno a Me (Les Enfants du Pirée) - 1960
2. La Canzone di Orfeo (La Chanson d'Orphée) - 1960
3. Bambino (Versão original) - 1956
4. Chi Mai Lo Sa (Che Sarà del Nostro Amore?) (Que Sont Devenues Les Fleurs?) - 1962
5. Milord (Versão original, em italiano) - 1960
6. O Sole Mio (Versão original) - 1960
7. Arlecchino Gitano (L'Arlequin de Tolède) - 1960
8. Gli Zingari (Les Gitans) - 1959
9. T'amerò Dolcemente (T'aimer Follement) - 1960
10. Chiudi Il Ballo con Me (Garde-Moi la Dernière Danse) - 1961
11. Piove (Ciao Ciao Bambina) - 1959
12. Come Prima (Tu me Donnes) (Versão original) - 1958
13. La Pioggia Cadrà (Le Jour où la Pluie Viendra) - 1959
14. Pezzettini Bikini (Itsi Bitsi Petit Bikini) - 1960
15. Amore Scusami (Em Italiano) - 1964 

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